O Luto

Um trabalho de Sandra Rodrigues


AJUDE-SE A RECUPERAR QUANDO A SUA CRIANÇA MORRE

Permita-se Sofrer

A sua criança morreu. Está perante a difícil, mas importante, necessidade de dor. Sofrimento é a expressão aberta dos seus pensamentos e sentimentos relativos à morte da sua criança é uma fase essencial para poder recuperar.

Com a morte da sua criança, as suas esperanças, sonhos e planos para o futuro ficam virados de “cabeça para baixo”. Está no inicio de uma viagem amedrontada, dolorosa e opressiva. A morte de uma criança resulta na perda mais profunda. De facto, às vezes os seus sentimentos de sofrimento podem ser tão intensos que não entende o que está acontecendo. Este artigo contem sugestões práticas para o ajudar a orientar-se na sua dor individual.

Perceba Que a Sua Dor é Única

Sua dor é única. A criança única que amou tanto e com quem se preocupou tanto morreu. Ninguém, incluindo o seu cônjuge, sofrerá exactamente da mesmo maneira que você. O seu percurso de luto não só será influenciado pela relação que tinha com a criança, mas também pelas circunstâncias da sua morte, do seu sistema de apoio emocional e do seu suporte cultural e religioso.

Como resultado, sofrerá de forma única e individual. Não tente comparar a sua experiência com a de outros ou tentar supor de quanto tempo o seu sofrimento deveria durar. Considere viver “um dia de cada vez” o que lhe permitirá sofrer ao seu próprio ritmo.

Permita Sentir Confusão

Sentir-se ofuscado ou entorpecido quando a sua criança morre pode ser a parte inicial do seu processo de luto. Pode sentir como se o mundo tivesse desmoronado. Este entorpecimento tem uma função: dá tempo para as suas emoções alcançarem o que a sua cabeça lhe está a dizer.

Pode sentir que está a sonhar – que vai acordar e nada disso é verdade. Estes sentimentos de entorpecimento e descrença ajudam-no a superar da realidade da morte até poder tolerar o que ainda não quer acreditar.

Esta Morte é “Defeituosa”

A ordem mais natural é os pais precederem as suas crianças na morte, você tem que se readaptar a uma nova e ilógica realidade. Esta chocante realidade é que mesmo sendo mais velho e sendo protector e provedor, você sobreviveu e a sua criança não. Isto pode ser muito difícil de compreender e aceitar.

Não só a morte da criança viola o modo da natureza, onde o jovem cresce e substitui o mais velho, mas a sua identidade pessoal está ligada à criança. Pode sentir-se impotente e admirado por não ter conseguido proteger a sua criança da morte.

Espere Sentir Uma Variedade de Emoções

A morte da sua criança pode originar uma variedade de emoções. Confusão, desorganização, medo, raiva e alivio são algumas das emoções que pode sentir. Às vezes, essas emoções alternam-se num curto espaço de tempo. Ou podem manifestar-se em simultâneo.

Por muito estranhas que possam parecer, estas emoções são normais e saudáveis. Permite-lhe aprender com esses sentimentos. E não se surpreenda se sem qualquer razão surgir uma onda de emoção, mesmo nas alturas em que menos espera. Estes ataques de sofrimento podem assustá-lo e deixá-lo a sentir-se dominado. Porem, são uma resposta natural à morte da sua criança. Procura alguém que compreenda os seus sentimentos e que lhe permita que fale sobre eles.

Seja Tolerante Com os Seus Limites Físicos e Psicológicos

Os seus sentimentos de perda e tristeza irão provavelmente deixá-lo cansado. A sua habilidade para pensar claramente e tomar decisões pode estar afectada, assim como o seu nível de energia. Não espere ter a disponibilidade para o seu cônjuge, outras crianças e amigos como a que costuma ter.

Respeite o que o seu corpo e mente lhe dizem. Tire um dia de descanso. Coma refeições equilibradas. Cuidar de si não significa sentir pena de si. Significa que está tentando sobreviver.

Fale da Sua Dor

Expresse o seu sofrimento abertamente. Quando partilha sua dor com outras pessoas, está avançando no processo saudável da recuperação. Ignorar a sua dor não a fará ir embora, falar frequentemente dela faz com que se sinta melhor. Permita-se falar sobre o que lhe vai no coração, e não só do que lhe vai na cabeça. Fazer isto não significa que está a perder o controlo ou a ficar “louco”. É uma fase normal do processo de luto.

Não Aceite Clichés

Clichés – comentários muito usados por algumas pessoas na tentativa de diminuir a dor da sua perda – podem ser extremamente dolorosos ao ouvi-los. Comentários como, “Está a ir muito bem”, “O tempo cura todas as feridas”, “Pense em tudo de bom que possui” ou “Tem de ser forte para os outros”, não são construtivos. Apesar de estes comentários serem bem-intencionados, não tem de os aceitar. Tem todo o direito de expressar o seu sofrimento. Ninguém tem o direito de lhe levar a mal por isso.

Desenvolva Um Sistema de Apoio

Muitas vezes é difícil procurar ajuda e aceita apoio, particularmente quando ainda dói tanto. Mas o auto-apoio mais compassivo neste momento difícil é tentar encontrar um sistema de apoio de familiares e amigos atenciosos que lhe darão a compreensão de que necessita. Procure essas pessoas que o encorajam a reconhecer os seus sentimentos – ao mesmo tempo felizes e tristes.

Um grupo de apoio pode ser uma das melhores maneiras de se ajudar a si próprio. Num grupo pode conversar com outros pais que também tiveram a experiência de perder um filho. O grupo permitirá e encorajará que fale sobre a sua criança como quiser e quando quinzes.

Partilhar a dor não a fará desaparecer, mas pode aliviar o pensamento, a ideia de que está a ficar louco. O apoio funciona de maneiras diferentes para pessoas diferentes – grupos de apoio, conselheiros, amigos, fé – descubra a combinação que melhor funciona consigo e faça uso dela.

Guarde as Suas Recordações

Recordações são um dos melhores legados que existem depois da morte de uma criança. Lembrará sempre. Em vez de ignorar estas recordações, partilhe-as com a sua família e amigos.

Lembre-se que as recordações podem ser tingidas com felicidade e tristeza. Se as recordações são alegres, ria. Se são tristes, chore. Ninguém lhe poderá tirar as suas recordações de amor.

Junte as Lembranças Importantes

Pode querer coleccionar algumas lembranças importantes que o ajudam a guardar as suas recordações. Pode querer escrever um livro de memórias, uma colecção de fotografias representativas da vida da criança. Assim, sempre que quiser pode abrir a caixa de memórias e pode recordar momentos especiais. A realidade da morte da criança não diminui a sua necessidade de ver esses objectos. São uma parte palpável, duradoura da relação especial que teve com a sua criança.

Aceite a Sua Espiritualidade

Se a fé fizer parte da sua vida, expresse-a da maneira que achar mais apropriada. Permita-se estar rodeado de pessoas que entendem e aceitam as suas convicções religiosas. Se estiver zangado com Deus, devido à morte da sua criança, entenda este sentimento como uma fase normal do processo de luto. Procure alguém, que não seja critico, para expressar seus sentimentos e pensamentos.

Pode ouvir “Com fé, não necessita de sofrer”. Não acredite. Apesar de possuir a sua fé pessoal, não quer dizer que não tenha necessidade de expressar os seus pensamentos e sentimentos. Negar a sua dor é um convite a que os problemas cresçam mais dentro de si. Expresse a sua fé mas expresse também a sua dor.

Oriente a Sua Dor e Saúde

A sua capacidade de amar tem que ser restabelecida depois da dor da perda da sua criança. Não poderá recuperar a menos que expresse o seu sofrimento abertamente. Negar a sua dor só aumentará a sua dor e o tornará mais confuso. Aceite a sua dor e recupere.

A reconciliação do seu sofrimento não acontece de forma rápida. Lembre-se, o luto é um processo, não é um acontecimento. Seja paciente e tolerante consigo próprio. Não esqueça que a morte da sua criança muda a sua vida para sempre. Não quer dizer que não volte a ser feliz, mas nunca mais será exactamente como era antes da criança ter falecido.

“A experiência do luto é muito forte. Também a sua capacidade de recuperação é forte. Fazendo o percurso do luto, estará a orientar um sentido renovado sobre o significado da vida”